Sol, distraidamente sardenta, encantadora. Começa um zumbido. É uma mosca. Diana enxota-a. Primeiro com um gesto delicado, depois com enfado, por fim arreliada. Atingiu o cúmulo da tolerância. Os esforços de dissuasão cessam. Para a mosca, tanto melhor: escala a garganta, passeia-se pelos lábios e pára junto ao septo do nariz, esfregando as patas dianteiras como se lavasse atarefadamente pratos imaginários. Resistindo à provocação do prurido, Diana não enceta nenhum ataque. A intrusa, no entanto, levanta voo. A mão da rapariga ergue-se à altura da cara, mas o indicador, em vez de friccionar a pele irritada, prefere carregar na narina esquerda, bloqueando-a. Diana assim se fica. Depois de dar umas voltas no ar, a mosca decide revisitar o rosto sardento. Do queixo vai para a maçã-do-rosto, a seguir abriga-se novamente sob o nariz. Inesperadamente, é aspirada com a máxima potência pela narina direita. A jovem sente, deleitada, o insecto a ser sugado pela fossa nasal adentro, a viajar até à faringe e, depois, a subir-lhe à boca que, poderosa, o escarra vingativamente no chão de azulejos. Flecte os joelhos: as patinhas agitam-se impotentemente, debatendo-se no muco guloso e amarelo. Diana retoma a posição erecta, mantendo a inimiga sob mira. Uma ternura sádica tremeluz nos seus olhos. Equilibra todo o corpo sobre o pé esquerdo e fecha o olho do mesmo lado, para fazer pontaria. Num único e decidido movimento, a minúscula sola do salto alto acerta em cheio na mosca.